Parte I
No capítulo I, há uma apresentação do ambiente
em que a história será contada, sua localização e o nome de um fazendeiro muito
rico chamado Reginaldo Venceslau de Oliveira, que deixando grandes posses para
filhos e netos chega a sua primeira neta herdeira de toda sua fortuna a
Margarida, filha do capitão-mor e casada com o Major Joaquim Damião de Barros.
Neste primeiro momento, o autor deixa clara a
condição dessa personagem principal que é: neta de homem rico, casada, moradora
da fazenda Poço da Moita e herdeira de toda riqueza da família. Temos então a
apresentação pela posse, não só de bens, mas do poder que exerce nesse espaço,
quando se explicita que seu marido se enquadra nessas posses, Margarida
possui não apenas dinheiro, mas pessoas também.
“Poço da Moita por último passara para
Margarida, a primeira neta do Reginaldo, filha do Capitão-mor, casada com o
Major Joaquim Damião de Barros, um homenzarrão alto e grosso, natural de
Pernambuco – uma boa alma. Viera ao Ceará à compra de cavalos, e por cá ficou
amarrado aos amores e aos possuídos da muito conhecida Guidinha do Poço.”
Na segunda apresentação da personagem Margarida,
tem-se a ideia de que ela não é uma mulher comum da época, não é uma mulher
submissa e sugere essa herança do pai que, mesmo sendo um mandão, não controla
a própria filha.
“Margarida, isto é, a Guidinha, apesar de sua
princesia, não casou tão cedo como era de supor. Parece que primeiro quis
desfrutar a vidoca. Seu pai, o segundo Venceslau, capitão-mor da vila, possuía
larga fortuna em gados, terras, ouro, escravos... Fora rico e um mandão”.
Sobre a educação de Margarida mostra-se outro
paradigma, por ser rica, supõe-se uma menina mais recatada, com uma educação
mais culta, entretanto, diferente do que se espera, Guidinha é mimada pela avó,
que a protege da rispidez do pai, e se torna uma menina mais livre, sem freio.
Na escolaridade Guidinha aprendeu o básico, ler, escrever, contar e a educação
religiosa como o catecismo, mas, de certa forma, diferente do que era esperado
para uma menina com as suas condições, pois aos catorze anos ela atravessa o
rio Curimataú por desafio de uma amiga.
Essas revelações são importantes para construção
da personalidade de Guidinha, como uma mulher sem medo, corajosa, de gênio
forte, inclusive masculinizando-a por algumas atitudes e pela forma como lida
com sua sexualidade, de maneira mais liberal.
No capítulo II, Guidinha já está casada e sua
descrição está voltada para a forma como conduz esse casamento, sua fazenda,
sua casa e como interage com esse ambiente seco.
“Margarida era extremamente generosa para os
retirantes que passavam pela fazenda. O que lhes pedia era que não ficassem;
dava-lhes com que se fossem caminho fora a procurar salvação nas praias, que
era só para onde Rainha olhava. Tinha duas escravas incumbidas unicamente
de servi-los, já a dar leite cozido as criancinhas, já a passar na água alguns
molambos que as pobres mães não tinham força para lavar (...).”
E de algum modo incomodava seu marido essas
atitudes, mas ele também era submisso e sua índole é descrita como um poço ou
como próprio autor usa um abismo.
“Margarida era como um palácio cuja fachada
principal desse para um abismo.”
No capítulo III temos, finalmente, as
características físicas dessa mulher, até então descrita apenas por suas
atitudes e posturas.
“(...) não parecia contar já seus trinta e cinco
anos de idade. Os cabelos tinha-os de uma castanho encrespado, e pele lisa, e
uma destra facilidade de movimentos, com umas risadas que pareciam ecoar pelo
serrotes peludos da frondagem.”
Temos já uma mulher de meia idade, mas de uma
beleza singular, uma pele lisa. A importância dessa descrição está para chamar
aos acontecimentos seguintes, a aparição de Luís Secundino de Sousa Barros,
sobrinho do seu marido.
Nos próximos capítulos teremos a não descrição
desse novo personagem, mas uma impressão de quem é o Secundino através de suas
atitudes, suas ambições, sua fala e o motivo pelo qual leva a sair de sua
cidade e chegar à fazenda.
Secundino, como foragido da justiça, chega à
fazenda do tio sem saber em que terras pisava, e quando é reconhecido esse
parentesco Guidinha o trata como hóspede e ele enche os olhos pela vida e
as posses que o tio conseguiu. A própria Guidinha também foi considerada por
ele como uma escolha de bom gosto do tio. Em sua fala com o vaqueiro:
“E, como este, eram galanteios e otimismos para
toda parte, achar tudo muito bom e muito belo.”
Sua curiosidade interesseira emerge quando
observa o lugar que o tio vive e manifesta suas interrogações com o menino
enviado pela senhora a fazer companhia como: se margarida tinha filhos, como
era o tratamento com seus criados, se era muito rica. Essa interação para
conhecer o território que estava e totalmente rodeado de interesses.
“O rapaz corria o olho pela fazenda, na qual já
lhe ia parecendo ter parte. Muito gado, em vista da falada crise.”
Apesar de receber muitos retirantes, existem
momentos em que a família de Joaquim não aceita tão bem esta situação. O
acontecimento citado é a seca, que podemos entender como uma pista da mudança
de comportamento dos personagens, não sendo sempre tão cordial. Logo, a isso é
ligada a situação de um dos recebidos pela família, Secundino, que chega à
fazenda ocasionalmente, como já referido, revelando complicações na sua cidade.
Isto não afasta a senhora Guidinha, ao contrário, demonstra uma defesa ao
sobrinho que necessita de ajuda. Temos aqui mostras dos sentimentos dos
personagens, e defesas de valores que serão revelados no decorrer do livro.
Prosseguindo, Secundino vai almoçar e é convidado para sentar ao lado de Seu
Antônio mostrando na relação entre os dois a irrelevância do criado para o
Secundino e a percepção disso pelo vaqueiro com seus monólogos interiores.
No decorrer da trama há o encontro entre tio e
sobrinho. Este é um outro ponto chave. Outros personagens também se manifestam,
mas apenas seguindo as ações diárias, que é o caso de Naiú e seu Antônio,
cuidando dos animais. A preocupação deste com seu trabalho é tão grande que em
um momento interrompe a conversa de Secundino com Quinquim, e isso além de
demonstrar uma ação complicadora, também levanta a relação da Guida, que rebate
o “atrevimento” com enfado. Outro fato curioso é antes desta conversa, quando
há uma briga entre dois novilhotes. É descrito o ambiente, e logo após tio e
sobrinho estão em uma ótima relação, não melhor apenas pela necessidade de Quim
em falar com a Guida antes de qualquer decisão. Este jogo entre essa parte pode
ser considerado uma pista da relação entre os personagens,deixando
subentendido uma futura briga entre tio e sobrinho.
Após a recepção, Secundino e Guida começam suas
primeiras conversas, acompanhados da Mãe Anginha que passa boa parte da
comunicação cortando os dois, sendo demonstrado aí o interesse na Guidinha,
pois passa todo o período em conflito com a Dona Ângela. Essas primeiras
demonstrações sentimentais são percebidas também na insistência da jovem em
Secundino trabalhar perto da casa que eles se encontram.
Prosseguindo, Secundino causa grande
movimentação naquelas terras, e, sem revelar o real motivo dele se encontrar em
tal espaço, Guida, e Joaquim recebiam vários curiosos em sua casa. Com o passar
do dia muitos foram embora e ficaram somente os mais conhecidos. Foi no jogo
que a tia e o sobrinho participaram que as comparações da primeira entre seu
parceiro de jogo e seu companheiro de quarto começaram a surgir, e o interesse
de Secundino passou a ficar mais forte também, pois além dos elogios dos outros
sobre a senhora, ela também demonstrou querer ajudá-lo na justiça, e isso
causou uma mudança na forma de vê-la. Outro personagem bastante descrito aqui é
o Silveira, com elogios sobre o seu trabalho, e também a menção de que não pode
beber por perder a cabeça, outra característica importante do personagem, pois
quebra a perfeição criada em cima dele até aqui.
Por causa da chuva é adiada a ida do Secundino
para sua nova loja, e assim ficam todos conversando e comendo. O hóspede elogia
cada vez mais a comida servida. Após a alimentação ficam conversando com ele
Anginha e Quinquim, disputando estes dois nas histórias contadas, até chegar no
ponto em que discutem entre a vila ser criada pelo D. José ou pela Dona Maria
I. Assim, para fechar com a ideia de um dos dois há a leitura de um infólio,
comprovando no final deste a versão da velha, que a defesa era sobre Maria I.
Guidinha chegou durante toda essa discussão, ouvindo todo o processo. Nessa
parte percebemos a luta da Ângela para comprovar seu passado, dando importância
assim para o que foi contado pelos mais velhos e aos documentos, aproveitando
para falar da construção no tempo, com pensamentos sociais em relação à
diversidade que compõe um determinado espaço, desde os miseráveis até os que
possuem propriedades.
Continuando a história Guida, mostra sua “garra”
de mulher do campo, tomando as decisões ela dava ordens para seus empregados,
demonstra conhecimento sobre a área. Quando Joaquim aparece a forma de cobrança
dela sobre ele expressa o controle possuído. Neste trecho mais indícios do
desejo dela por Secundino são dados, primeiro com a vontade dele de ficar no
sítio, depois na conversa com Carolina, perguntando se esta gosta do marido e
por último vendo uma paisagem e falando para a amiga que o sobrinho apreciaria
aquilo. Aqui também levanta a briga entre as famílias dos Silveira com a do
Antônio, o segundo acusando os retirantes de furtar animais, e a Carolina se
manifestando contra. Uma história é contada nesta parte, carregando uma
característica marcante da personagem Carolina, trabalhadora do campo, que é a
de utilizar termos ou histórias para expressar situações reais, característica
comum entre os empregados da fazenda.
Parte II
De início, o livro segundo, traz o episódio em
que a lavadeira de Dona Guidinha traz as roupas que bateu para a casa e
conversa com a sua amiga Dona Anginha, falando saudosamente do lugar onde
moravam antes e de como a sua ocupação era melhor executada naquelas bandas.
Essas personagens não trazem no decorrer da trama uma complexidade maior. No
entanto, neste primeiro capítulo, Naiú aparece despretensiosamente e
inofensivamente sendo apenas ponte ou canal de comunicação entre a Dona
Guidinha e Secundino, na parte da narração em que um bilhete de Dona
Guidinha é levado à cidade através dele. É por meio desse bilhete que Dona
Guidinha mantém contato com o sobrinho de Joaquim e compra de sua loja produtos
que ela sequer tinha necessidade. Nessa aparição Naiú não se apresenta de forma
complexa, mas veremos mais a frente que ele é fundamental para a execução dos
planos de Dona Guidinha, desde os mais simples até os mais macabros. É nesse
capítulo ainda que Secundino conversa com o padre da paróquia da vila onde que
encontra instalado e ouve diversas histórias sobre a constituição da vila e da
igreja, figuras históricas são mencionadas e fazem parte do diálogo de modo a
contextualizar Secundino, fazê-lo parte da vila e deixá-lo mais a vontade nesse
lugar, a princípio, estranho. É neste lugar estranho, também, que Secundino
conhece Eulália, filha do Juiz, futura rival de Dona Guidinha na disputa pelos
desejos do moço.
No segundo capítulo dessa parte, uma festa de
casamento ocorre, na qual é espalhado o boato de que Secundino e Eulália
estavam de namoros pela Vila. Dona Guidinha ao tomar contato com tais conversas
sentiu-lhe crescer um sentimento misto de raiva, ciúmes e fazia o máximo para dissimulá-lo.
Nesse ponto da narrativa, um canto de pássaro de mau agouro ressoa, num momento
em que todos estavam reunidos, dentro do todo da obra podemos pensar que esta
era mais uma pista deixada pelo narrador de que as coisas caminhavam para uma
desgraça e morte num momento não muito distante dali. Dona Guidinha e Eulália
são as mais proeminentes nesse ponto da história, aquela pela astúcia, esta
pela inocência em não perceber as intenções de aproximação de Dona Guidinha
para controlar seus passos amorosos no tocante a Secundino.
O capítulo 3 que encerra a parte segunda do
livro, finaliza com as danças e os “repentes” e da relação festiva que havia no
Poço da Moita entre os senhores, os escravos e “agregados”. É nesse capítulo
também que a aparição de Silveira e de Secundino surgem no sentido de ocultação
de algo, de um crime, algo que Dona Guidinha era a mais bem informada. Naiú
aparece de novo enviando ao Secundino outro bilhete de Dona Guidinha para que
ele ficasse tranquilo porque mesmo tendo saído o boato do assassinato ela não
deixaria que o pegassem para o punir. Então, segue a narrativa para o dia do
sambão no terreiro do Silveira, um dos nomes principais da obra, o vaqueiro que
Dona Guidinha consulta para realizar um de seus planos no desfecho da narrativa.
Durante as danças, Secundino, Dona Guidinha, Eulália, os escravos, todos dançam
e se envolvem com as músicas e a festa.
Parte III
Passadas as festas no terreiro do Silveira, Dona
Guidinha continuava se comunicando com Secundino da Vila e comprando diversos
de seus produtos. Concomitantemente crescia o interesse de Lalinha por
Secundino e permeada de hospitalidade dos servos de Dona Guidinha as
personagens principais vão entrelaçando-se num jogo de interesses no qual a
vontade da mais poderosa voz prevalecerá, culminando expressivamente isto com o
episódio da missa, no qual tais personagens comparecem e trocam olhares durante
o sermão. Momento significativo para a tomada de decisões de Guidinha que se
seguirá, com vistas a desmotivar a moça de sua paixão pelo sobrinho de seu
esposo.
Um fator que pode ser destacado é no IV quando
Secundino fica desgostoso com movimento de seu primeiro comércio. Então,
seus tios, Quim e Guida, decidem a passar-lhe a profissão de fazendeiro. Isso
fará que o contato deste com sua tia Guidinha fique cada vez mais intenso. A
organização disto foi feita por Dona Guidinha: “Quem lhe comprou quase tudo foi
a Guida” . Ao passo que a construção de sua riqueza ou a tentativa disso é
efetuada em modo paulatino, sendo um dos motivos propulsores para que seu
casamento com a Lalinha ocorresse.
Embora, a essa altura ele já tivesse tomado
certa afeição por esta a ponto de querer casar, este casório só seria efetuado
em reflexos de interesses de imagens: tanto social - para todos os efeitos a
tentativa de que fosse escondida a relação entre a tia e o sobrinho. Assim como
na financeira: por parte de Secundino - embora estivesse “trabalhando” para
construir sua própria fortuna, a fortuna da Lala passaria a ser sua, assim como
a do seu tio Major por intermédio de Guidinha, sem contar as influências que
teria por seu sogro passar a ser o juiz daquelas terras.
A partir disso, destaca-se então, Guida morta de
ciúmes pelo sobrinho. E sua característica marcante de ser controladora e
autoritária quanto às ações que interferissem o usufruto de seus interesses
- como se sabe, Guida não medirá esforços para manter Secundino a seu redor.
Assim por intermédio de Aninha Balaio, a seu ver, felizmente, “conseguiria
incompatibilizar o Secundino com pai de Lalá”. “(...) assegurou ao doutor que o
Secundino lhe furtaria a filha (...). E desde aí passou o homem a implicar
seriamente com o rapaz”. Assim como também verifica-se que a Guida por inúmeras
vezes tenta desconstruir a imagem de sua rival ao Major Quim. No pensamento
ardiloso desta, ele na posição de tio de Secundino, talvez interviesse nesta
situação.
No capítulo V, descobre-se a vida sem escrúpulos
que Secundino levou até então - pelo fato de estar sendo acusado de homicídio
de seu padrasto. Então, a vida pacata e entediante de vaqueiro que passou a ser
começa a esmorecer seu afeto por Lalinha. Assim, como segue o trecho exato
deste ocorrido: “Era esse apego muito parecido com o ar de novidade que envolve
a gente quando atravessamos os dias críticos de uma aclimação; a adaptação já
realizada, já se estabelece a pasmaceira do hábito” - Outro fator interessante
a ser notado neste trecho é a inserção do leitor que o narrador faz a fim de
que seja um interlocutor ativo na compreensão de sentimento do pensamento ou na
reflexão deste feito por Secundino. Tal recurso faz com que as ações deste
personagem em questão sejam verossímeis ou se transportem à, pelo menos,
realidade do leitor.
Uma vez percebido por Guida esse esmorecimento
afetivo de Secundino pela Lalinha, acaba concordando, astuta e ironicamente é
claro, com o casório destes em uma conversa com seu marido: “devia realmente
casar com a Lalinha a quem incensava, às vestas do Major, gabando-a e dizendo
que era uma moça de cheirar e agradar, que nem parecia gente de praça... Finuras
de mulher, que enganou ao Diabo. Quanto à oposição do pai Juiz de Direito,
cessaria com sua intervenção áurea”. Percebe-se neste último destaque, a
opinião do próprio narrador sobre Guida, em valor altamente negativo - suas artimanhas
são colocadas superiores às do Diabo, visto que é ratificado aqui o
posicionamento autoritário de Guida, além de que por vezes ser
contraditório. Ora é a favor, ora é contra, a depender daquilo que lhe é
conveniente aderir. Essas oscilações comportamentais são mostradas ao leitor
através dos costumes diários que permeiam a narrativa da obra, tais como, nas
festas, nas missas - na intervenção aos padres pela absolvição Secundino da
acusação de homicídio de seu padrasto, por exemplo - o que se sabe que
realmente é concedida, nas eleições, entre outras situações.
Parte IV
Em aspectos gerais de caracterização da parte IV
do livro em questão, esta serve para que o Major Damião, o Quim, descubra
ou ratifique a traição de sua esposa. Mediante a aproximação de Guida e
Secundino ter ficado cada vez mais notória pelo povoado, os próprios amigos já
estavam comentando e riam às suas custas.
É também o ponto da narrativa no qual se percebe
um sinal apreciativo, diga-se assim, das qualidades de Quim em sinal dessa
traição. Ora os valores de Quim são comparados aos de Guida, ora os da
Margarida aos de Quim. Nunca estes dois, Guida e Secundino, em manifestação de
conduta moral os superará. Assim em referência as estes últimos polos,
exemplifica-os nos seguintes fragmentos: “uma sujeita casada com um homem que
era um anjo de bondade, sério, que lhe zelava o cabedal de fortuna, e sadio,
sem mau hálito, sem vícios, e que era homem só para ela... Que diabo! Não
fazer mistério de seus desejos a um rapaz que não se julgava nem esses vigores,
nem essas bonitezas...”.
Tal narração é efetuada pela voz do próprio
amante de Guida, o Secundino. Em modo de apreciação caracterizadora de sua
própria condição: de não estar à altura de seu tio. Tanto moralmente como
fisicamente, visto como sabe bem mesmo se juntassem todos os seus valores
(independentemente dos financeiros), eles não se equiparariam às qualidades do
seu tio Quim. Nota-se que, a princípio este fora pobre, porém honesto. E Guida
sempre rica, porém refletiu por vezes ares desonestos.
Entretanto, mesmo rico toda essa situação faz
com que Quim tentasse suicídio. Pois o orgulho e a honra, onde ficavam? Assim
como se vê: “Que diabo era a vida? Ele ricaço e infamado, o outro pobre e morto
de desgraça”. Destacou-se esse trecho, pois repare-se que a possibilidade de
morte de Quinquim é realizada neste trecho comparativamente ao termo ‘outro’,
além de possuir o qualificador pobre. Este é Machico, inserido nesta
altura na narrativa, pode-se dizer, que a modo qualificador que o Major
pendesse a querer ter o mesmo destino de seu amigo vaqueiro. Mas, depois ele
desiste.
Aqui a característica marcante de Margarida de ser
controladora e autoritária é estabelecida a esta por meio de uma
tentativa de desconstrução afetiva de Secundino pela sua própria rival, a
Lalinha. Portanto, mais uma maneira ardilosa de Guida para ser interrompido o
casamento deste dois, tal como será vista na menção irônica que Margarida faz
do sobrinho à Eulália, sua pretendente: “- Aquilo? Minha filha, aquilo depois
que se meteu de fazendeiro... Eu chego já a arrepender-me de ter inventado
aquele arranjo! está um preguiçoso, menina... Olha, uma ocasião deixou
de vender não sei quantos bois, por bom dinheiro, só para não montar a cavalo e
caminhar duas léguas”.
Tudo isso faz com que o Major, vá desconstruindo
seu apreço pela sua esposa e seu sobrinho. Além das idas e vindas do Poço à
Goiabeira (onde Secundino morou) entre as festas e os costumes da região são os
que mais o afligem. Por exemplo, como desfecho desta última parte: “Guida
perguntou logo se passara na Goiabera: Lalinha ia apanhar a resposta, mas o
Major não respondeu, caminhando para o quarto (...)”
Parte V
Na quinta e última parte de Dona Guidinha do
Poço temos o clímax da obra, finalmente. Essa é a parte em que o Major Joaquim
acaba sendo assassinado a mandado de Guidinha pelo fato dele ter expulsado
Secundino, seu amante, da fazenda Poço da Moita.
Nessa parte da obra podemos ver a personalidade
de Guidinha aflorando ao máximo ao alimentar um ódio cada vez maior contra seu
marido. Ela maquina diversos pensamentos que mostram que cometerá um crime
contra o marido. Trechos que mostram o pensamento da matriarca demonstram isso,
como:
“Será que este homem se julga mesmo doente de
verdade? Ou estará ficando doido?... Não haverá ali dissimulação de alguma
trama?... Quererá vingar-se?... Naturalmente, fazer que está longe e aparecer
de sopetão... Pois está muito enganado! Verá! O boi sabe a cerca que fura.”
No trecho acima podemos ver Guidinha suspeitando
do que o marido poderia estar planejando contra ela e seu relacionamento. A
mulher se mostra rancorosa e isso é reforçado nesse próximo trecho:
“O Major Facundo, na Capital, foi pela noite:
mas tu serás ao meio-dia em ponto, Major de borra!”.
Guidinha remete ao caso da morte do Major
Facundo, em Fortaleza, na época em que o contexto da obra ocorria, onde o homem
foi assassinado por pistoleiros enviados pelos seus inimigos. O caso que ocorre
em Dona Guidinha do Poço é semelhante, já que a mulher ordena o assassinato de
Joaquim. Não só uma, mas duas vezes.
A primeira tentativa é de Lulu Venâncio, homem
acusado de assassinato, era valentão e Guidinha acreditou que teria o sangue
frio para matar o marido dela, porém não foi isso que ocorreu. Lulu
arrependeu-se de seu crime anterior, decidindo entregar-se para a justiça e
constatou que não tinha “culhões” para um assassinato a sangue frio.
A segunda tentativa foi a de Naiú, menino que
vivia na fazenda do Poço da Moita. Silveira, que também tenta assassinar
Joaquim, não por mandado de Guidinha, mas sim por uma desavença contra o homem,
revela que Naiú é um discípulo e retrata em um trecho mais sobre o que seria
realmente o garoto:
“Quem? O Naiú! A Cumade não sabe quem está
ali naquele molecão! Aquilo pra um Cabelera só falta principiar...”
O trecho traz uma comparação de Naiú com uma
figura histórica. A figura, no caso, é o cangaceiro Cabeleira, acusado de
vários crimes e é também um dos mais perigosos cangaceiros da história. Isso é
complementar a diversos apontamentos no decorrer do livro sobre Naiú. Sempre
falava-se do garoto como forte e perigoso, porém nunca num sentido literal de
assassino, mas revela-se ao lermos que o moleque enfia um punhal a sangue frio
no pescoço de Joaquim no meio do dia.
Joaquim, antes de seu assassinato, mostra-se um
homem mais determinado na quinta parte do que no resto da história. Ele cria
coragem de expulsar Secundino da fazenda, assumindo uma proposta mais
autoritária e de iniciar um plano que tinha como objetivo se divorciar de
Guidinha. Ele chega a essa conclusão depois de muito debater com párocos da
vila.
Secundino, por sua parte, não tem grande
participação nestes momentos. Depois de ser expulso da fazenda, ele desaparece
e fica apenas na memória de Guidinha, aprisionada depois de Naiú admitir todo o
crime, fazendo com que chegassem até ela. Guidinha acaba perdendo a confiança
de toda a vila, porém ela, ao ser presa, continua demonstrando toda sua aura
pomposa com um sorriso no rosto, não desfazendo a forte imagem matriarcal e
poderosa que tivemos apresentada em toda a trama.
Uma coisa notável no fim do livro é a
demonstração de que a vila é uma terra com as próprias leis ou, praticamente,
sem leis. Acusa-se Guidinha do assassinato, mas apenas ela é presa. Seus
cúmplices claros continuam soltos ou fogem para longe. O livro mostra-se ser
cruel para certos padrões, já que a morte é tratada como algo muito natural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário