quinta-feira, 25 de junho de 2015

Resumo das ações de enredo do texto Dona Guidinha do Poço, de Manoel de Oliveira Paiva.

 

Parte I

 

No capítulo I, há uma apresentação do ambiente em que a história será contada, sua localização e o nome de um fazendeiro muito rico chamado Reginaldo Venceslau de Oliveira, que deixando grandes posses para filhos e netos chega a sua primeira neta herdeira de toda sua fortuna a Margarida, filha do capitão-mor e casada com o Major Joaquim Damião de Barros.
Neste primeiro momento, o autor deixa clara a condição dessa personagem principal que é: neta de homem rico, casada, moradora da fazenda Poço da Moita e herdeira de toda riqueza da família. Temos então a apresentação pela posse, não só de bens, mas do poder que exerce nesse espaço, quando se explicita que seu marido se enquadra nessas posses, Margarida  possui não apenas dinheiro, mas pessoas também.
“Poço da Moita por último passara para Margarida, a primeira neta do Reginaldo, filha do Capitão-mor, casada com o Major Joaquim Damião de Barros, um homenzarrão alto e grosso, natural de Pernambuco – uma boa alma. Viera ao Ceará à compra de cavalos, e por cá ficou amarrado aos amores e aos possuídos da muito conhecida Guidinha do Poço.”
Na segunda apresentação da personagem Margarida, tem-se a ideia de que ela não é uma mulher comum da época, não é uma mulher submissa e sugere essa herança do pai que, mesmo sendo um mandão, não controla a própria filha.
“Margarida, isto é, a Guidinha, apesar de sua princesia, não casou tão cedo como era de supor. Parece que primeiro quis desfrutar a vidoca. Seu pai, o segundo Venceslau, capitão-mor da vila, possuía larga fortuna em gados, terras, ouro, escravos... Fora rico e um mandão”.
Sobre a educação de Margarida mostra-se outro paradigma, por ser rica, supõe-se uma menina mais recatada, com uma educação mais culta, entretanto, diferente do que se espera, Guidinha é mimada pela avó, que a protege da rispidez do pai, e se torna uma menina mais livre, sem freio. Na escolaridade Guidinha aprendeu o básico, ler, escrever, contar e a educação religiosa como o catecismo, mas, de certa forma, diferente do que era esperado para uma menina com as suas condições, pois aos catorze anos ela atravessa o rio Curimataú por desafio de uma amiga.
Essas revelações são importantes para construção da personalidade de Guidinha, como uma mulher sem medo, corajosa, de gênio forte, inclusive masculinizando-a por algumas atitudes e pela forma como lida com sua sexualidade, de maneira mais liberal.
No capítulo II, Guidinha já está casada e sua descrição está voltada para a forma como conduz esse casamento, sua fazenda, sua casa e como interage com esse ambiente seco.
“Margarida era extremamente generosa para os retirantes que passavam pela fazenda. O que lhes pedia era que não ficassem; dava-lhes com que se fossem caminho fora a procurar salvação nas praias, que era só para onde Rainha olhava. Tinha duas escravas incumbidas unicamente de servi-los, já a dar leite cozido as criancinhas, já a passar na água alguns molambos que as pobres mães não tinham força para lavar (...).”
E de algum modo incomodava seu marido essas atitudes, mas ele também era submisso e sua índole é descrita como um poço ou como próprio autor usa um abismo.
“Margarida era como um palácio cuja fachada principal desse para um abismo.”
No capítulo III temos, finalmente, as características físicas dessa mulher, até então descrita apenas por suas atitudes e posturas.
“(...) não parecia contar já seus trinta e cinco anos de idade. Os cabelos tinha-os de uma castanho encrespado, e pele lisa, e uma destra facilidade de movimentos, com umas risadas que pareciam ecoar pelo serrotes peludos da frondagem.”
Temos já uma mulher de meia idade, mas de uma beleza singular, uma pele lisa. A importância dessa descrição está para chamar aos acontecimentos seguintes, a aparição de Luís Secundino de Sousa Barros, sobrinho do seu marido.
Nos próximos capítulos teremos a não descrição desse novo personagem, mas uma impressão de quem é o Secundino através de suas atitudes, suas ambições, sua fala e o motivo pelo qual leva a sair de sua cidade e chegar à fazenda.
Secundino, como foragido da justiça, chega à fazenda do tio sem saber em que terras pisava, e quando é reconhecido esse parentesco Guidinha o trata como hóspede e ele  enche os olhos pela vida e as posses que o tio conseguiu. A própria Guidinha também foi considerada por ele como uma escolha de bom gosto do tio. Em sua fala com o vaqueiro:
“E, como este, eram galanteios e otimismos para toda parte, achar tudo muito bom e muito belo.”
Sua curiosidade interesseira emerge quando observa o lugar que o tio vive e manifesta suas interrogações com o menino enviado pela senhora a fazer companhia como: se margarida tinha filhos, como era o tratamento com seus criados, se era muito rica. Essa interação para conhecer o território que estava e totalmente rodeado de interesses.
“O rapaz corria o olho pela fazenda, na qual já lhe ia parecendo ter parte. Muito gado, em vista da falada crise.”
Apesar de receber muitos retirantes, existem momentos em que a família de Joaquim não aceita tão bem esta situação. O acontecimento citado é a seca, que podemos entender como uma pista da mudança de comportamento dos personagens, não sendo sempre tão cordial. Logo, a isso é ligada a situação de um dos recebidos pela família, Secundino, que chega à fazenda ocasionalmente, como já referido, revelando complicações na sua cidade. Isto não afasta a senhora Guidinha, ao contrário, demonstra uma defesa ao sobrinho que necessita de ajuda. Temos aqui mostras dos sentimentos dos personagens, e defesas de valores que serão revelados no decorrer do livro. Prosseguindo, Secundino vai almoçar e é convidado para sentar ao lado de Seu Antônio mostrando na relação entre os dois a irrelevância do criado para o Secundino e a percepção disso pelo vaqueiro com seus monólogos interiores.
No decorrer da trama há o encontro entre tio e sobrinho. Este é um outro ponto chave. Outros personagens também se manifestam, mas apenas seguindo as ações diárias, que é o caso de Naiú e seu Antônio, cuidando dos animais. A preocupação deste com seu trabalho é tão grande que em um momento interrompe a conversa de Secundino com Quinquim, e isso além de demonstrar uma ação complicadora, também levanta a relação da Guida, que rebate o “atrevimento” com enfado. Outro fato curioso é antes desta conversa, quando há uma briga entre dois novilhotes. É descrito o ambiente, e logo após tio e sobrinho estão em uma ótima relação, não melhor apenas pela necessidade de Quim em falar com a Guida antes de qualquer decisão. Este jogo entre essa parte pode ser considerado uma pista da  relação entre os personagens,deixando subentendido uma futura briga entre tio e sobrinho.
Após a recepção, Secundino e Guida começam suas primeiras conversas, acompanhados da Mãe Anginha que passa boa parte da comunicação cortando os dois, sendo demonstrado aí o interesse na Guidinha, pois passa todo o período em conflito com a Dona Ângela. Essas primeiras demonstrações sentimentais são percebidas também na insistência da jovem em Secundino trabalhar perto da casa que eles se encontram.
Prosseguindo, Secundino causa grande movimentação naquelas terras, e, sem revelar o real motivo dele se encontrar em tal espaço, Guida, e Joaquim recebiam vários curiosos em sua casa. Com o passar do dia muitos foram embora e ficaram somente os mais conhecidos. Foi no jogo que a tia e o sobrinho participaram que as comparações da primeira entre seu parceiro de jogo e seu companheiro de quarto começaram a surgir, e o interesse de Secundino passou a ficar mais forte também, pois além dos elogios dos outros sobre a senhora, ela também demonstrou querer ajudá-lo na justiça, e isso causou uma mudança na forma de vê-la. Outro personagem bastante descrito aqui é o Silveira, com elogios sobre o seu trabalho, e também a menção de que não pode beber por perder a cabeça, outra característica importante do personagem, pois quebra a perfeição criada em cima dele até aqui.
Por causa da chuva é adiada a ida do Secundino para sua nova loja, e assim ficam todos conversando e comendo. O hóspede elogia cada vez mais a comida servida. Após a alimentação ficam conversando com ele Anginha e Quinquim, disputando estes dois nas histórias contadas, até chegar no ponto em que discutem entre a vila ser criada pelo D. José ou pela Dona Maria I. Assim, para fechar com a ideia de um dos dois há a leitura de um infólio, comprovando no final deste a versão da velha, que a defesa era sobre Maria I. Guidinha chegou durante toda essa discussão, ouvindo todo o processo. Nessa parte percebemos a luta da Ângela para comprovar seu passado, dando importância assim para o que foi contado pelos mais velhos e aos documentos, aproveitando  para falar da construção no tempo, com pensamentos sociais em relação à diversidade que compõe um determinado espaço, desde os miseráveis até os que possuem propriedades.
Continuando a história Guida, mostra sua “garra” de mulher do campo, tomando as decisões ela dava ordens para seus empregados, demonstra conhecimento sobre a área. Quando Joaquim aparece a forma de cobrança dela sobre ele expressa o controle possuído. Neste trecho mais indícios do desejo dela por Secundino são dados, primeiro com a vontade dele de ficar no sítio, depois na conversa com Carolina, perguntando se esta gosta do marido e por último vendo uma paisagem e falando para a amiga que o sobrinho apreciaria aquilo. Aqui também levanta a briga entre as famílias dos Silveira com a do Antônio, o segundo acusando os retirantes de furtar animais, e a Carolina se manifestando contra. Uma história é contada nesta parte, carregando uma característica marcante da personagem Carolina, trabalhadora do campo, que é a de utilizar termos ou histórias para expressar situações reais, característica comum entre os empregados da fazenda.

 

Parte II

 

De início, o livro segundo, traz o episódio em que a lavadeira de Dona Guidinha traz as roupas que bateu para a casa e conversa com a sua amiga Dona Anginha, falando saudosamente do lugar onde moravam antes e de como a sua ocupação era melhor executada naquelas bandas. Essas personagens não trazem no decorrer da trama uma complexidade maior. No entanto, neste primeiro capítulo, Naiú aparece despretensiosamente e inofensivamente sendo apenas ponte ou canal de comunicação entre a Dona Guidinha e  Secundino, na parte da narração em que um bilhete de Dona Guidinha é levado à cidade através dele. É por meio desse bilhete que Dona Guidinha mantém contato com o sobrinho de Joaquim e compra de sua loja produtos que ela sequer tinha necessidade. Nessa aparição Naiú não se apresenta de forma complexa, mas veremos mais a frente que ele é fundamental para a execução dos planos de Dona Guidinha, desde os mais simples até os mais macabros. É nesse capítulo ainda que Secundino conversa com o padre da paróquia da vila onde que encontra instalado e ouve diversas histórias sobre a constituição da vila e da igreja, figuras históricas são mencionadas e fazem parte do diálogo de modo a contextualizar Secundino, fazê-lo parte da vila e deixá-lo mais a vontade nesse lugar, a princípio, estranho. É neste lugar estranho, também, que Secundino conhece Eulália, filha do Juiz, futura rival de Dona Guidinha na disputa pelos desejos do moço.
No segundo capítulo dessa parte, uma festa de casamento ocorre, na qual é espalhado o boato de que Secundino e Eulália estavam de namoros pela Vila. Dona Guidinha ao tomar contato com tais conversas sentiu-lhe crescer um sentimento misto de raiva, ciúmes e fazia o máximo para dissimulá-lo. Nesse ponto da narrativa, um canto de pássaro de mau agouro ressoa, num momento em que todos estavam reunidos, dentro do todo da obra podemos pensar que esta era mais uma pista deixada pelo narrador de que as coisas caminhavam para uma desgraça e morte num momento não muito distante dali. Dona Guidinha e Eulália são as mais proeminentes nesse ponto da história, aquela pela astúcia, esta pela inocência em não perceber as intenções de aproximação de Dona Guidinha para controlar seus passos amorosos no tocante a Secundino.
O capítulo 3 que encerra a parte segunda do livro, finaliza com as danças e os “repentes” e da relação festiva que havia no Poço da Moita entre os senhores, os escravos e “agregados”. É nesse capítulo também que a aparição de Silveira e de Secundino surgem no sentido de ocultação de algo, de um crime, algo que Dona Guidinha era a mais bem informada. Naiú aparece de novo enviando ao Secundino outro bilhete de Dona Guidinha para que ele ficasse tranquilo porque mesmo tendo saído o boato do assassinato ela não deixaria que o pegassem para o punir. Então, segue a narrativa para o dia do sambão no terreiro do Silveira, um dos nomes principais da obra, o vaqueiro que Dona Guidinha consulta para realizar um de seus planos no desfecho da narrativa. Durante as danças, Secundino, Dona Guidinha, Eulália, os escravos, todos dançam e se envolvem com as músicas e a festa.
 

Parte III

 

Passadas as festas no terreiro do Silveira, Dona Guidinha continuava se comunicando com Secundino da Vila e comprando diversos de seus produtos. Concomitantemente crescia o interesse de Lalinha por Secundino e permeada de hospitalidade dos servos de Dona Guidinha as personagens principais vão entrelaçando-se num jogo de interesses no qual a vontade da mais poderosa voz prevalecerá, culminando expressivamente isto com o episódio da missa, no qual tais personagens comparecem e trocam olhares durante o sermão. Momento significativo para a tomada de decisões de Guidinha que se seguirá, com vistas a desmotivar a moça de sua paixão pelo sobrinho de seu esposo.
Um fator que pode ser destacado é no IV quando Secundino fica desgostoso com movimento de seu primeiro comércio. Então, seus tios, Quim e Guida, decidem a passar-lhe a profissão de fazendeiro. Isso fará que o contato deste com sua tia Guidinha fique cada vez mais intenso. A organização disto foi feita por Dona Guidinha: “Quem lhe comprou quase tudo foi a Guida” . Ao passo que a construção de sua riqueza ou a tentativa disso é efetuada em modo paulatino, sendo um dos motivos propulsores para que seu casamento com a Lalinha ocorresse.
Embora, a essa altura ele já tivesse tomado certa afeição por esta a ponto de querer casar, este casório só seria efetuado em reflexos de interesses de imagens: tanto social - para todos os efeitos a tentativa de que fosse escondida a relação entre a tia e o sobrinho. Assim como na financeira: por parte de Secundino - embora estivesse “trabalhando” para construir sua própria fortuna, a fortuna da Lala passaria a ser sua, assim como a do seu tio Major por intermédio de Guidinha, sem contar as influências que teria por seu sogro passar a ser o juiz daquelas terras.
A partir disso, destaca-se então, Guida morta de ciúmes pelo sobrinho. E sua característica marcante de ser controladora e autoritária quanto às ações que interferissem o usufruto de seus interesses - como se sabe, Guida não medirá esforços para manter Secundino a seu redor. Assim por intermédio de Aninha Balaio, a seu ver, felizmente, “conseguiria incompatibilizar o Secundino com pai de Lalá”. “(...) assegurou ao doutor que o Secundino lhe furtaria a filha (...). E desde aí passou o homem a implicar seriamente com o rapaz”. Assim como também verifica-se que a Guida por inúmeras vezes tenta desconstruir a imagem de sua rival ao Major Quim. No pensamento ardiloso desta, ele na posição de tio de Secundino, talvez interviesse nesta situação.
No capítulo V, descobre-se a vida sem escrúpulos que Secundino levou até então - pelo fato de estar sendo acusado de homicídio de seu padrasto. Então, a vida pacata e entediante de vaqueiro que passou a ser começa a esmorecer seu afeto por Lalinha. Assim, como segue o trecho exato deste ocorrido: “Era esse apego muito parecido com o ar de novidade que envolve a gente quando atravessamos os dias críticos de uma aclimação; a adaptação já realizada, já se estabelece a pasmaceira do hábito” - Outro fator interessante a ser notado neste trecho é a inserção do leitor que o narrador faz a fim de que seja um interlocutor ativo na compreensão de sentimento do pensamento ou na reflexão deste feito por Secundino. Tal recurso faz com que as ações deste personagem em questão sejam verossímeis ou se transportem à, pelo menos, realidade do leitor.
Uma vez percebido por Guida esse esmorecimento afetivo de Secundino pela Lalinha, acaba concordando, astuta e ironicamente é claro, com o casório destes em uma conversa com seu marido: “devia realmente casar com a Lalinha a quem incensava, às vestas do Major, gabando-a e dizendo que era uma moça de cheirar e agradar, que nem parecia gente de praça... Finuras de mulher, que enganou ao Diabo. Quanto à oposição do pai Juiz de Direito, cessaria com sua intervenção áurea”. Percebe-se neste último destaque, a opinião do próprio narrador sobre Guida, em valor altamente negativo - suas artimanhas são colocadas superiores às do Diabo, visto que é ratificado aqui o posicionamento autoritário de Guida, além de que por vezes ser contraditório. Ora é a favor, ora é contra, a depender daquilo que lhe é conveniente aderir. Essas oscilações comportamentais são mostradas ao leitor através dos costumes diários que permeiam a narrativa da obra, tais como, nas festas, nas missas - na intervenção aos padres pela absolvição Secundino da acusação de homicídio de seu padrasto, por exemplo - o que se sabe que realmente é concedida, nas eleições, entre outras situações.
 

Parte IV

 

Em aspectos gerais de caracterização da parte IV do livro em questão, esta serve para que o Major Damião, o Quim, descubra ou ratifique a traição de sua esposa. Mediante a aproximação de Guida e Secundino ter ficado cada vez mais notória pelo povoado, os próprios amigos já estavam comentando e riam às suas custas.
É também o ponto da narrativa no qual se percebe um sinal apreciativo, diga-se assim, das qualidades de Quim em sinal dessa traição. Ora os valores de Quim são comparados aos de Guida, ora os da Margarida aos de Quim. Nunca estes dois, Guida e Secundino, em manifestação de conduta moral os superará. Assim em referência as estes últimos polos, exemplifica-os nos seguintes fragmentos: “uma sujeita casada com um homem que era um anjo de bondade, sério, que lhe zelava o cabedal de fortuna, e sadio, sem mau hálito, sem vícios, e que era homem só para ela... Que diabo! Não fazer mistério de seus desejos a um rapaz que não se julgava nem esses vigores, nem essas bonitezas...”.
Tal narração é efetuada pela voz do próprio amante de Guida, o Secundino. Em modo de apreciação caracterizadora de sua própria condição: de não estar à altura de seu tio. Tanto moralmente como fisicamente, visto como sabe bem mesmo se juntassem todos os seus valores (independentemente dos financeiros), eles não se equiparariam às qualidades do seu tio Quim. Nota-se que, a princípio este fora pobre, porém honesto. E Guida sempre rica, porém refletiu por vezes ares desonestos.
Entretanto, mesmo rico toda essa situação faz com que Quim tentasse suicídio. Pois o orgulho e a honra, onde ficavam? Assim como se vê: “Que diabo era a vida? Ele ricaço e infamado, o outro pobre e morto de desgraça”. Destacou-se esse trecho, pois repare-se que a possibilidade de morte de Quinquim é realizada neste trecho comparativamente ao termo ‘outro’, além de possuir o qualificador pobre. Este é Machico, inserido nesta altura na narrativa, pode-se dizer, que a modo qualificador que o Major pendesse a querer ter o mesmo destino de seu amigo vaqueiro. Mas, depois ele desiste.
Aqui a característica marcante de Margarida de ser controladora e autoritária é estabelecida a esta por meio de uma tentativa de desconstrução afetiva de Secundino pela sua própria rival, a Lalinha. Portanto, mais uma maneira ardilosa de Guida para ser interrompido o casamento deste dois, tal como será vista na menção irônica que Margarida faz do sobrinho à Eulália, sua pretendente: “- Aquilo? Minha filha, aquilo depois que se meteu de fazendeiro... Eu chego já a arrepender-me de ter inventado aquele arranjo! está um preguiçoso, menina... Olha, uma ocasião deixou de vender não sei quantos bois, por bom dinheiro, só para não montar a cavalo e caminhar duas léguas”.
Tudo isso faz com que o Major, vá desconstruindo seu apreço pela sua esposa e seu sobrinho. Além das idas e vindas do Poço à Goiabeira (onde Secundino morou) entre as festas e os costumes da região são os que mais o afligem. Por exemplo, como desfecho desta última parte: “Guida perguntou logo se passara na Goiabera: Lalinha ia apanhar a resposta, mas o Major não respondeu, caminhando para o quarto (...)”

 

Parte V

 

Na quinta e última parte de Dona Guidinha do Poço temos o clímax da obra, finalmente. Essa é a parte em que o Major Joaquim acaba sendo assassinado a mandado de Guidinha pelo fato dele ter expulsado Secundino, seu amante, da fazenda Poço da Moita.
Nessa parte da obra podemos ver a personalidade de Guidinha aflorando ao máximo ao alimentar um ódio cada vez maior contra seu marido. Ela maquina diversos pensamentos que mostram que cometerá um crime contra o marido. Trechos que mostram o pensamento da matriarca demonstram isso, como:
“Será que este homem se julga mesmo doente de verdade? Ou estará ficando doido?... Não haverá ali dissimulação de alguma trama?... Quererá vingar-se?... Naturalmente, fazer que está longe e aparecer de sopetão... Pois está muito enganado! Verá! O boi sabe a cerca que fura.”
No trecho acima podemos ver Guidinha suspeitando do que o marido poderia estar planejando contra ela e seu relacionamento. A mulher se mostra rancorosa e isso é reforçado nesse próximo trecho:
“O Major Facundo, na Capital, foi pela noite: mas tu serás ao meio-dia em ponto, Major de borra!”.
Guidinha remete ao caso da morte do Major Facundo, em Fortaleza, na época em que o contexto da obra ocorria, onde o homem foi assassinado por pistoleiros enviados pelos seus inimigos. O caso que ocorre em Dona Guidinha do Poço é semelhante, já que a mulher ordena o assassinato de Joaquim. Não só uma, mas duas vezes.
A primeira tentativa é de Lulu Venâncio, homem acusado de assassinato, era valentão e Guidinha acreditou que teria o sangue frio para matar o marido dela, porém não foi isso que ocorreu. Lulu arrependeu-se de seu crime anterior, decidindo entregar-se para a justiça e constatou que não tinha “culhões” para um assassinato a sangue frio.
A segunda tentativa foi a de Naiú, menino que vivia na fazenda do Poço da Moita. Silveira, que também tenta assassinar Joaquim, não por mandado de Guidinha, mas sim por uma desavença contra o homem, revela que Naiú é um discípulo e retrata em um trecho mais sobre o que seria realmente o garoto:
“Quem? O Naiú! A Cumade não sabe quem  está ali naquele molecão! Aquilo pra um Cabelera só falta principiar...”
O trecho traz uma comparação de Naiú com uma figura histórica. A figura, no caso, é o cangaceiro Cabeleira, acusado de vários crimes e é também um dos mais perigosos cangaceiros da história. Isso é complementar a diversos apontamentos no decorrer do livro sobre Naiú. Sempre falava-se do garoto como forte e perigoso, porém nunca num sentido literal de assassino, mas revela-se ao lermos que o moleque enfia um punhal a sangue frio no pescoço de Joaquim no meio do dia.
Joaquim, antes de seu assassinato, mostra-se um homem mais determinado na quinta parte do que no resto da história. Ele cria coragem de expulsar Secundino da fazenda, assumindo uma proposta mais autoritária e de iniciar um plano que tinha como objetivo se divorciar de Guidinha. Ele chega a essa conclusão depois de muito debater com párocos da vila.
Secundino, por sua parte, não tem grande participação nestes momentos. Depois de ser expulso da fazenda, ele desaparece e fica apenas na memória de Guidinha, aprisionada depois de Naiú admitir todo o crime, fazendo com que chegassem até ela. Guidinha acaba perdendo a confiança de toda a vila, porém ela, ao ser presa, continua demonstrando toda sua aura pomposa com um sorriso no rosto, não desfazendo a forte imagem matriarcal e poderosa que tivemos apresentada em toda a trama.
Uma coisa notável no fim do livro é a demonstração de que a vila é uma terra com as próprias leis ou, praticamente, sem leis. Acusa-se Guidinha do assassinato, mas apenas ela é presa. Seus cúmplices claros continuam soltos ou fogem para longe. O livro mostra-se ser cruel para certos padrões, já que a morte é tratada como algo muito natural.

 

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