segunda-feira, 22 de junho de 2015

Resumo e analise dos personagens de Bom Crioulo - Adolfo Caminha

Resumo por capítulos – Bom Crioulo

Capítulo 1
A estória se inicia com a descrição de um velho navio, que outrora fora belo e veloz, mas que já se encontrava encardido e lento. O anúncio do tenente para que os tripulantes entrassem em forma é o evento que agita a até então tranquila e tediosa viagem. Alinhados cada qual em seu lugar, o comandante, em sua postura autoritária e altiva, manda que entrem os presos, estes são Herculano, Sant’Ana e Amaro, conhecido como Bom-Crioulo. Os dois primeiros foram punidos com as chibatadas de Agostinho, um marinheiro forte e perverso, por conta de uma briga que aconteceu entre eles por ter sido Herculano pego em flagrante por Sant’Ana em um momento particular, já Amaro foi punido por bater impiedosamente em um segunda classe que havia maltratado Aleixo, um bonito marinheiro alvo de certos comentários.

Capítulo 2
Flashback para mostrar a história do Bom-Crioulo que, fugindo da fazenda onde era escravo, fora recrutado pela Marinha. A liberdade que então experimentava fez com que Amaro se tornasse dedicado ao seu trabalho e respeitoso com seus superiores, daí seu apelido de “Bom-Crioulo”. Passadas algumas aventuras em alto-mar, fora destinado a outra viagem, em que seria gajeiro de proa, no começo executava muito bem sua tarefa, mas na viagem de volta tornou-se distraído e indiferente, gerando comentários que a causa disso seria o já citado Aleixo. A amizade entre os dois nasceu de forma inesperada e avassaladora, Amaro sentiu-se atraído por Aleixo como nunca se sentira antes por qualquer pessoa, ao primeiro olhar. Desde então passou a cuidar do garoto de quinze anos, e tais cuidados fizeram com que Aleixo também sentisse por Bom-Crioulo uma afeição sincera.  Foi então que Amaro quis mostrar ao garoto até onde ia seu zelo e ao mesmo tempo provar a este seu poder sobre os outros, esmurrando o marinheiro que maltratou o garoto.

Capítulo 3
No outro dia, todos ansiavam por chegar à Guanabara, menos Bom-Crioulo, que preferia viver no mar junto a Aleixo, por quem nutria uma paixão nunca antes experimentada, pois suas duas experiências com mulheres tinham sido envergonhadoras. No navio, enquanto os outros marinheiros se distraiam, Bom-Crioulo e Aleixo conversavam num canto sobre os planos do negro de alugar para eles uma casa no Rio de Janeiro, mas foram interrompidos por uma forte chuva. Passado o aguaceiro, ficaram o frio e a umidade e, enquanto os marinheiros cantavam e dançavam na proa, Bom-Crioulo preferiu recolher-se em lugar mais quente. Acordou no outro dia de folga e disposto a arrumar um jeito de realizar seus desejos com Aleixo, na primeira oportunidade disse ao garoto que precisavam resolver um assunto e perguntou onde ele dormiria, ficando combinado de conversarem à noite. Assim foi feito e à noite, deitados lado a lado, Bom-Crioulo confessou seus desejos a Aleixo, que lembrando-se das promessas do negro e de seus cuidados, sentiu vontade de ceder aos caprichos de Amaro e logo consumaram o ato.

Capítulo 4
Durante a madrugada, a corveta anunciava a proximidade do porto e, amanhecendo, cada qual cuidava de arrumar seus pertences. Bom-Crioulo e Aleixo contemplavam a costa fluminense e o primeiro indicava ao segundo as belezas daquela terra. A alegria de todos com a chegada a terra, se opunha à tristeza e preocupação experimentada por Bom-Crioulo, que temia perder a amizade e a proximidade com Aleixo. Chegando ao porto, receberam ordem de não desembarcar e, dominado pelo cansaço, Bom-Crioulo adormeceu. Depois de acordar, com a licença para ir a terra, foi-se com Aleixo à rua da Misericórdia, onde Amaro foi recebido com grande alegria pela portuguesa D. Carolina, ex-prostituta grata à Amaro por ter lhe salvado à vida certa vez em que era assaltada, como paga por este gesto tornaram-se grandes amigos, por conta disso, depois de tomar conhecimento da história de seu amigo com o garoto, D. Carolina alugou para eles um quartinho nos fundos na casa.

Capítulo 5
Viveram tranquilamente durante quase um ano. Bom-Crioulo tornou-se novamente dedicado e obediente no trabalho, enquanto Aleixo continuava a ser estimado por todos, tanto por causa de seu bom comportamento como por sua aparência bonita e sempre bem cuidada. Na casa, davam-se muito bem, ficavam à vontade sem que ninguém os perturbasse, mas alguns caprichos de Bom-Crioulo incomodavam o garoto, como o pedido que este o fez certo dia de que ficasse nu por inteiro, ainda que relutando e envergonhado, Aleixo atendeu aos pedidos de Amaro, fora isso, a vida corria muito bem para ele. D. Carolina tratava o garoto com muito carinho e os três viviam como uma família, sem segredos entre si.
No mês de dezembro, o das epidemias, os marinheiros trabalhavam, sem se dar conta do perigo que corriam, raspando o mexilhão que o calor apodrecia no fundo seco do dique, de onde subia o cheiro insuportavelmente forte dos mariscos em decomposição. Passado algum tempo, Bom-Crioulo notou-se mais magro e a mesma opinião tinham os que conviviam com ele, mas isto não o incomodou, continuou vivendo tranquilamente até que recebeu a notícia que havia sido nomeado para trabalhar em outro barco.

Capítulo 6
No dia seguinte, ao encontrar a porta do quarto fechada, Aleixo supôs que Bom-Crioulo não tinha sido liberado do seu novo posto de serviço, já que a disciplina neste navio era muito mais rígida. Depois de dormir, o garoto ficou perturbado com a ideia de que estava perdendo seu tempo com Bom-Crioulo, já que poderia arrumar um homem de posição e dinheiro, a quem valeria a pena entregar-se. Dominado pela ideia de mudar de vida, Aleixo decidiu sair um pouco de casa, estava se arrumando quando foi interrompido por D. Carolina, conversaram um pouco e a portuguesa disse ao menino que não demorasse em seu passeio, pois precisavam conversar. A conversa que D. Carolina pretendia ter com o grumete se referia à ideia que algum tempo vinha planejando: a de tê-lo para si, como seu amante. Chegando de seu passeio, Aleixo foi ter com D. Carolina que convidou-o para seu quarto e se declarou, seduzindo o garoto que cedeu ao desejo à pouco despertado.

Capítulo 7
Bom-Crioulo odiava o navio em que agora servia, e por recomendação feita aos seus superiores sobre sua violência quando bebia, trataram de evitar que ele saísse do navio. Certo dia, cansado de trabalhar sem descanso, com a desculpa de que ia fazer uma necessidade, Amaro fugiu do navio e foi para casa. Lá, sem encontrar Aleixo, dormiu até que D. Carolina o acordou. Ao sair de casa, deparou-se com grande confusão causada por um homem com gota que se contorcia de dor no chão, vendo que dois bombeiros não conseguiam carregá-lo, Bom-Crioulo abriu espaço entre o povo e carregou, sem grande esforço, o homem até o hospital. Na volta, passou na taberna para beber aguardente, isto fora o suficiente para embriagar e tornar o negro violento como o diziam. Desceu as ruas até o cais cambaleando e ameaçando outros marinheiros, até que entrou em luta corporal com um português, que fugiu ao perceber que Bom-Crioulo segurava uma navalha. A confusão só acabou quando um tenente mandou que segurassem Amaro e o levassem até uma das embarcações.

Capítulo 8
Preso, sonhou com um comandante de quem não gostava, um que diziam não simpatizar com as mulheres, sonhou também com Aleixo e a briga com o português. Foi acordado para seu castigo, novamente todos em forma para assistir à cena e, de novo, Amaro sofreu as chibatadas em silêncio, dessa vez, porém, caiu no chão à última chibatada e foi levado apressadamente para o hospital. Enquanto isso, Aleixo, que nesse dia encontrava-se de folga, foi ter com D. Carolina, que satisfez seus desejos de adolescente num banho que tomaram juntos no quintal da casa. O garoto, porém, não conseguia esquecer Bom-Crioulo, queria odiá-lo e esquecê-lo, mas as memórias violentas que possuía de Amaro vinham sempre à sua mente e geravam calafrios, mas ainda assim, não deixou de, durante a noite, entregar-se novamente à portuguesa.

Capítulo 9
No hospital, Bom-Crioulo sofria com a doença que fazia surgir feridas e coceiras em seu corpo, mas principalmente sofria com as saudades que sentia de Aleixo, que era ao mesmo tempo sua preocupação e seu consolo. Pediu que um empregado do hospital escrevesse um bilhete ao garoto, onde contava seu paradeiro e pedia que o visitasse e, não obtendo resposta, muito menos a visita de seu amado, Bom-Crioulo ficou furioso. Passado o ódio, voltou a pensar em uma forma de ver o garoto, cogitando até mesmo a ideia de fugir do hospital.
Capítulo 10
Aleixo e D. Carolina continuavam a viver bem, o garoto passou a dormir com a portuguesa e o quarto que antes dividia com Amaro, passou a ser depósito de móveis velhos. Haviam se esquecido de Bom-Crioulo e acreditavam que este também os esquecera, até que D. Carolina recebeu o bilhete do negro, enquanto Aleixo trabalhava. O bilhete, que ela rasgou logo depois de ler, tirou a paz da portuguesa durante todo o dia e seu sono durante a noite, por conta do medo da vingança que Bom-Crioulo poderia empreender, no dia seguinte trancou a porta da rua e, chegando Aleixo e encontrando a porta fechada, suspeitou de traição e irritou-se com D. Carolina, brigaram até que ela se viu obrigada a contar sobre o bilhete, mas decidiram que era melhor que o garoto não visitasse Amaro.

Capítulo 11
Bom-Crioulo já havia perdido as esperanças de ver Aleixo. Durante o dia conseguia viver normalmente, mas à noite as lembranças do que vivera com o garoto e o abandono sofrido faziam-no querer vingança, desejava matar o grumete, aniquilá-lo. Um dia, encontrou no hospital Herculano, aquele marinheiro que sofrera castigo a bordo do navio por ser pego em situação constrangedora, e este lhe contou como andavam os amigos marinheiros, inclusive que Aleixo estava amigado com uma rapariga. Desde então, a vontade de possuir novamente o grumete aumentara e com o agravante de que agora queria vê-lo sofrer. Para isso, era necessário fugir daquele hospital e ir ter com o garoto, por isso, Bom-Crioulo criou seu plano de fuga e durante a madrugada, esgueirando-se pelas paredes do hospital, chegou ao cais e, vencido pelo cansaço, adormeceu. Quando despertou, já era quase dia e os barcos começavam a circular, esperou até que um deles se aproximasse e, pedindo carona, embarcou.

Capítulo 12

Já na rua da Misericórdia, reconheceu o sobrado onde marava com Aleixo e sentiu-se, mais do que nunca, abandonado. Lembrava-se de todos os momentos que ali vivera com o garoto, quando uma fraqueza o tomou, apoiando-se, avistou a padaria e lá foi buscar abrigo. Chegando, perguntou ao jovem funcionário se no sobrado em frente ainda morava D. Carolina e obteve do rapaz resposta positiva e detalhes de que um marinheiro jovem de olhos azuis havia se amigado com a portuguesa. Ao dizer isso, o funcionário apontou-lhe que o jovem saia de casa e, tomado por um ódio cego, Bom-Crioulo foi ter com Aleixo, apertando e ameaçando o garoto que, assustado, pedia que o soltasse. Aos poucos, a rua foi se enchendo de curiosos e D. Carolina, despertada pelo barulho, foi à janela, de onde viu Aleixo ser carregado ensanguentado, com o pescoço coberto de panos e os braços caídos, sem vida. As pessoas queriam vê-lo e não se preocuparam com o negro descendo tristemente a rua. Até que os curiosos foram se dispersando e tudo se tornou monótono novamente.


Análise das Personagens de “Bom Crioulo”

Protagonistas

Amaro 
Amaro, o Bom Crioulo, é um negro fugido que acha sua liberdade no trabalho que consegue junto à Marinha. Ele se sente bem nesse trabalho em que todos são tratados igualmente, brancos e negros. Essa liberdade que ele sente, de início, é forte, como retratada no trecho ““A liberdade entrava-lhe pelos olhos, pelos ouvidos, pelas narinas, por todos os poros(…)”
No livro é sempre reforçada a descrição do físico de Amaro, sempre ressaltando o quanto ele era alto e forte, com músculos descomunais: “(…)um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre (…) com um formidável sistema de músculos (…)”
Bom Crioulo ganhou este apelido por ser manso e generoso com as pessoas que o cercavam. Este só se transformava em uma pessoa perigosa quando bebia.
Amaro encontra calma na vida quando se relaciona com Aleixo. Quando os dois estão dividindo o quarto na Rua da Misericórdia, vemos no livro que ele está tranquilo, inclusive não se embebeda mais e, consequentemente, não mais arranja confusão.
É interessante notar a mudança que o Bom Crioulo tem em relação a sua percepção da liberdade. Antes de se envolver com Aleixo, Amaro sentia-se livre na vida que levava. Depois, quando ele e Aleixo já estão se distanciando, Bom Crioulo parece sentir-se oprimido pelo ambiente, inclusive chega a falar que aquela vida que ele leva não é liberdade.

Ainda sobre Amaro, no livro o relacionamento entre ele e Aleixo não é colocado como falha de caráter e sim como algo que vem do comportamento animal do homem. O autor legitima, de certa forma, a relação homossexual, reconhecendo que há ali um vínculo advindo do sentimento, porém, imbuído dos ideais da época, coloca essa relação como algo animal e, na voz do Aleixo, como um ato contra a natureza.

Bom Crioulo, então, não era um negro fugido que aspirava fazer parte do grupo dominante, era um homem que queria viver sua vida na liberdade conseguida, porém acaba tendo um destino trágico no mundo dos brancos.

Por fim, é digno de nota que Amaro foi um dos primeiros protagonistas negros na Literatura Brasileira e, certamente, o primeiro protagonista negro e homossexual.

Aleixo 
Aleixo é um garoto novo, porém não é infantilizado na obra. É descrito como “(…) um belo marinheiro de olhos azuis, muito querido por todos e de quem diziam-se ‘coisas’ “. Por ser muito bonito, era querido por todos. A mudança que ocorre com o Aleixo na obra é em relação ao Amaro. Bom Crioulo o protegia e dava presentes a ele, então Aleixo o via como um amigo e um protetor. Amaro, no entanto, apaixona-se pelo seu protegido e aproxima-se dele. Quando Amaro manifesta seu desejo por Aleixo, este pensa primeiro em todas as coisas que Bom Crioulo fez por ele para depois pensar que talvez sinta alguma desejo, reforçando que espera que o ato seja consumado rapidamente, como explicitado no trecho “Depois de um silêncio cauteloso e rápido, Bom-Crioulo, aconchegando-se ao grumete, disse-lhe qualquer coisa no ouvido. Aleixo conservou-se imóvel, sem respirar. Encolhido, as pálpebras cerrando-se instintivamente de sono, ouvindo, com o ouvido pegado ao convés, o marulhar das ondas na proa, não teve ânimo de murmurar uma palavra. Viu passarem, como em sonho, as mil e uma promessas de Bom-Crioulo: o quartinho da rua da Misericórdia no Rio de Janeiro, os teatros, os passeios…; lembrou-se do castigo que o negro sofrera por sua causa, mas não disse nada. Uma sensação de ventura infinita espalhava-se em todo o corpo. Começava a sentir no próprio sangue impulsos nunca experimentados, uma como vontade ingênita de ceder aos caprichos do negro, de abandonar-se-lhe para o que ele quisesse – uma vaga distensão dos nervos, um prurido de passividade…
- Ande logo! Murmurou apressadamente, voltando-se”
Vemos, então, que o sentimento de gratidão é maior que seu desejo.
A mudança ocorrida em Aleixo é em relação ao Amaro. Eles mantêm uma vida tranquila enquanto o Bom Crioulo está por perto, quando este se afasta, cresce um sentimento de repugnância em Aleixo, a ponto de ele ter medo de Amaro. Esse medo, por sua vez, é justificado por Amaro se tornar violento, o que leva ao desfecho da obra.

Dona Carolina
Dona Carolina é uma portuguesa que aluga um quarto na rua da Misericórdia para Amaro e Aleixo. É apresentada como uma mulher boa que aceita os dois homens dentro da sua casa.
A observação relevante a ser feita sobre Dona Carolina, é sobre sua mudança de comportamento em relação a Amaro e, principalmente, em relação a Aleixo. Quando os dois homens se distanciam, ela se interessa sexualmente em Aleixo e, por conta disso, começa a também sentir medo de Amaro e do que ele possa fazer caso descubra o relacionamento entre ela e o menino.
Dona Carolina é animalizada a partir do momento em que sua sexualidade é apontada no livro, como visto em: “Ela, de ordinário tão meiga, tão comedida, tão escrupulosa mesmo, aparecia-lhe como um animal formidável, cheio de sensualidade, como uma vaca do campo extraordinariamente excitada, que se atira ao macho antes que ele prepare o bote...
Era incrível aquilo!
A mulher só faltava urrar”

Após apresentar esses três personagens relevantes, é digno de nota ressaltar que esses personagens não sofrem mudanças em seu caráter, e sim em seu comportamento.
Os outros personagens presentes na obra são personagens menores que servem para compor o espaço e figurar em uma ou outra interação com os personagens principais.


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